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Comercialização de energia em tempos difíceis

6 de outubro de 2023
 por
Infinity Energias
Comercialização de energia em tempos difíceis

Na semana anterior, algo totalmente inesperado ocorreu e o PLD subiu, saindo de R$ 69,04 à R$ 600,00 em algumas horas do dia. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), um conjunto de fatores foram responsáveis. Entre eles, a manutenção da usina nuclear de Angra II, temperaturas elevadas e menor disponibilidade de renováveis.

Tais causas forçaram o modelo diário DESSEM à despachar térmicas em horários específicos do dia para garantir potência em determinados locais do país. A verdade é, desde o apagão, existem coisas estranhas acontecendo no setor elétrico. A própria causa da queda de energia nacional demorou para ser apontada. Além disso, todos os dias, ao ler os destaques da operação do dia anterior, é possível notarmos um elevado número de ocorrências em linhas e “vertimento” de eólicas, ou seja, as pás giram, mas não geram energia, jogando fora sua disponibilidade de geração. O nome técnico para isso seria “constrained-off”, que significa que a usina foi impedida de gerar pelo ONS por alguma razão. Inclusive discute-se a criação de um novo encargo para pagar as usinas eólicas e solares que passarem por essa suspensão forçada (hoje o encargo existe apenas para térmicas).

Essa última semana, vários pontos chamaram atenção. Com o passar do tempo o sistema está mais robusto, mas também mais difícil de se operar. Com cerca de 25% de toda a carga sendo atendida por eólica e solar, os problemas começaram a aparecer. Inclusive, o ONS restringiu a geração eólica após o apagão, indicando que está tendo problemas com a operação do setor elétrico. Entre o que escutamos nos bastidores, pode-se dizer em problemas de frequência, potência e até mesmo de disponibilização de informações dos parques eólicos. O que é verdade ou não é difícil saber, mas algo está acontecendo de diferente este ano. Quedas de energia em locais que não eram acostumados à sofrer e um apagão nacional acendem o alerta para o que está ocorrendo no setor.

Escutei algumas opiniões contrárias, mas ao nosso ver, o DESSEM, aparentemente fez o seu trabalho correto na última semana. Requisitou atendimento de térmicas na chamada “ponta”, ou mais conhecido como horário do pico de demanda de energia, o que também pode ser traduzido à um problema de potência. Por um lado, é estranho pensar que com 80% de reservatório no país o preço não fosse mais piso, mas por outro, a carga chegou à mais de 97GW no dia 26/09/2023, um desvio gigantesco em relação à média. Ou seja, não me parece tão absurdo o despacho destas térmicas, afinal as eólicas ou solares não conseguem aumentar sua geração conforme elevamos a carga. Claro, podemos questionar a descontinuidade e o salto dos preços, e por isso o modelo deve ser refinado constantemente, assim como destacado pelo próprio ONS na última reunião mensal.

Comercialização de Energia

O lado bom de tudo isso foi que o mercado experimentou uma divergência de opiniões depois de tanto tempo. Hoje temos negociações fora do piso regulatório para os últimos meses deste ano, com o alerta aceso para a possibilidade de ocorrer novamente uma subida repentina dos preços. O ONS, em reunião do PMO da semana anterior, disse que sim, à depender da carga principalmente, poderemos ver novas descontinuidades (subidas) dos valores do PLD. Ou seja, se tivermos ondas de calor, é importante os traders ficarem de olhos bem abertos.

A questão que me abre o olho, além da pouca liquidez, característica do mercado de energia elétrica, é a falta de produtos que permitam as comercializadoras a se protegerem destes cenários adversos. Até existem opções sendo transacionadas, mas com uma liquidez quase zero. Derivativos ainda praticamente inexistem, com uma plataforma criada no anterior que pouco andou. Um outro exemplo, seria a falta de proteção (hedge) para diferentes preços ao longo do dia, algo também inexistente no mercado. Sendo que, ao vender modulação carga para os consumidores finais, algo padrão para o mercado de varejo, a comercializadora assume essa exposição para ela. O mercado precisa evoluir para darmos o próximo passo na oferta de cada vez mais produtos personalizados ao cliente final, e que protejam das anomalias. O problema: quem vai ofertar estes produtos que protejam das anomalias? Difícil dizer, dado que vivemos em um mercado de uma distribuição de probabilidades bem longe de uma normal. Além disso, temos modelos que são muito difíceis de se entender o comportamento, dificultando a precificação de produtos diferentes.

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