A descarbonização do setor energético europeu, de acordo com as diretrizes da União Europeia, segue tendência global a partir de políticas net-zero carbon para atingir as metas ambientais até 2050, sobretudo as firmadas no Acordo de Paris.
As diretrizes no continente se fazem presentes em todos os setores da cadeia, da energia à indústria, transporte, edificações e agricultura [1]. Ações em soluções tecnológicas, financiamento de projetos e promoção de políticas têm ganhado destaque na promoção dos objetivos para a transição energética.
Para incentivar a utilização de combustíveis de baixo carbono no mercado de energia, a Comissão Europeia, visando promover a substituição de gás natural, aposta cada vez mais em regras e modelos de mercados para biometano e hidrogênio verde. A iniciativa se enquadra e contribui diretamente para o quadro das metas de redução de 55% das emissões até 2030 [2].
Atualmente, um outro mecanismo para redução dos gases de efeito estufa ocorre, cada vez mais, através dos mercados de crédito de carbono. O certificado de um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 que deixou de ser emitido para a atmosfera, podendo ser negociado em sistemas pelo mercado internacional. Com metas obrigatórias de redução firmadas em função de tratados como o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, os créditos podem ser comprados em um esquema de mercado cap-and-trade a fim de compensar as emissões industriais [3]. Uma solução inovadora e já consolidada desde os anos 2000 é o European Union Emissions Trading System (EUETS).
Em 2020, os sistemas de comércio e impostos de carbono envolvem cerca de 20% das emissões mundiais, um aumento de 5% quando comparado ao ano de 2017 [4]. Ao destacarem intervenções mais econômicas, especialistas apontam que será possível reduzir boa parte das emissões a um custo médio inferior a US$ 50 por tonelada de CO2 equivalente ao longo dos próximos anos.
As estratégias de descarbonização também fazem parte das diretrizes de supermajors do setor de petróleo e gás. A British Petroleum (BP), por exemplo, já oferece atividades de precificação de carbono em sistemas na Ásia, Oceania, Europa e América do Norte [5].
Além da precificação, outras estratégias visam contribuir diretamente de modo complementar à transição energética, como a expansão do uso de biocombustíveis, tecnologias de carbon capture utilization and storage (CCUS) e projetos de sumidouros naturais de carbono através de silvicultura.
No Brasil, um leque de oportunidades vai ao encontro das diretrizes globais de transição energética. A expansão das fontes renováveis tem destaque com os parques solares e eólicos offshore na costa litorânea; a possibilidade de, a partir da floresta amazônica e do cerrado, realizar o manejo sustentável do solo e a criação de sumidouros naturais de reflorestamento; além da criação de hubs de exportação de biocombustíveis, como etanol de primeira e segunda geração, hidrogênio verde, biogás e biometano colocam o território brasileiro em posição estratégica.
No que tange às políticas nacionais exitosas, o RenovaBio é uma referência para a descarbonização a partir dos biocombustíveis. O programa, resultado da Lei nº 13.576 de 2017, surgiu como um compromisso brasileiro frente aos acordos climáticos internacionais, com incentivo ao aumento da participação dos biocombustíveis na matriz energética e com um crédito de carbono próprio, denominado CBio e que também equivale a uma tonelada de CO2 não emitido à atmosfera [6].
Esquema de funcionamento da RenovaBio
Entre as oportunidades supracitadas, o biogás e o biometano tornam o país uma potência em escala global na produção de um substituto direto ao gás natural. O biogás é gerado a partir de resíduos sólidos urbanos e rejeitos orgânicos agropecuários em processos de biodigestão. Após a etapa de purificação, é possível adquirir um biometano com até 96% de pureza, assemelhando-se ao metano fóssil em propriedades físico-químicas. O biocombustível pode ser transportado através de gasodutos ou em pequena escala em caminhões, quando submetido à liquefação ou compressão.
Sucroenergia | Agronegócio | Saneamento (potencial por substrato do setor)
Em 2019, a produção brasileira alcançou 1,8 bilhão de m³/ano, com previsão de chegar a 11 bilhões de m³ anuais nos próximos anos, até 2030. No mesmo período, é estimado ainda que as bio-usinas dobrem, passando de 548 registradas para aproximadamente 1.000 plantas [7]. Segundo a Abiogás, o Brasil é um dos países com maior potencial de produção de biogás do planeta, com destaque para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Paraná.
Potencial Brasileiro de Biogás 2020
A utilização dos biocombustíveis, principalmente do potencial ainda em expansão das cadeias de biogás e biometano aplicadas à indústria, geração elétrica e transporte, além de contribuírem e permitirem bons indicadores sustentáveis no roadmap to net-zero carbon brasileiro com a redução de até 90% das emissões de CO2 e um sistema nacional no mercado de créditos de carbono que já se mostra eficaz, incentivam e proporcionam uma economia nacional mais verde e oportuna em tempos de transição energética e sustentabilidade.
[1] https://ec.europa.eu/clima/eu-action/climate-strategies-targets/2050-long-term-strategy_en
[2] https://epbr.com.br/comissao-europeia-facilita-entrada-de-gases-de-baixo-carbono-no-mercado-de-energia/
[3] https://joserobertoafonso.com.br/mercado-de-carbono-meneguin/
[4] https://www.mckinsey.com/industries/oil-and-gas/our-insights/the-future-is-now-how-oil-and-gas-companies-can-decarbonize
[5] https://www.bp.com/en/global/bp-global-energy-trading/what-we-do/global-environmental-products/carbon-pricing.html#tab_n-a
[6] mme.gov.br
[7] https://umsoplaneta.globo.com/patrocinado/engie/noticia/2021/07/16/entenda-por-que-o-brasil-e-uma-potencia-de-producao-de-biogas-e-biometano.ghtml