Temos visto muitas notícias nos veículos de imprensa sobre a atual sobreoferta do mercado de energia brasileiro, o que é uma verdade. Muitas empresas, como AES Brasil e (re)energisa, anunciaram recentemente sua intenção de reduzir seus investimentos em novos empreendimentos renováveis, devido aos baixos preços praticados no mercado livre e a falta da necessidade de contratação das distribuidoras, face à também uma sobreoferta no mercado regulado.
O cenário hoje é bem desafiador para boa parte dos agentes do setor. Em razão das fortes chuvas e medidas governamentais (lembrem-se da bandeira preta do início de 2022) desde a crise hídrica, os preços caíram de maneira brusca. O PLD, no piso desde o final de 2021, trouxe um cenário diferente para todos os envolvidos. Os altos níveis de reservatório, vistos apenas antes de 2013 e o baixo crescimento econômico (eterno país do futuro), trouxeram uma realidade de preços estáveis e baixos ao longo dos últimos 18 meses. Comercializadoras de energia, dependentes da volatilidade para especulação, se encontram em cenário complicado, e buscam diversificar seus trabalhos além da comercialização.
Do lado dos consumidores, nem todos se beneficiaram do excesso de oferta e consequente queda dos preços. Pelo histórico do mercado, ficar descoberto até o PLD mensal ser divulgado se mostrava uma estratégia arriscada, visto os momentos de preço no teto, que ocorriam todos os anos. Desta maneira, boa parte do mercado já se encontra contratado há um bom tempo. Mesmo assim, é de se pensar que se o preço de compra era bom, tudo certo, mas não funciona desta maneira. Parte do custo dos consumidores também vem dos encargos, que possuem correlação negativa com o PLD, ou seja, aumentam quando o PLD se encontra baixo (por diversas razões). Além disso, os encargos pagam muitas vezes as lambanças do governo, como o PCS, que adicionou cerca de R$40bi na conta dos consumidores, legado da crise hídrica.
Os geradores, como a Eletrobras, também não estão felizes com a situação. Muitos vêm declarando a intenção de reduzir seus investimentos, após publicarem planos agressivos no passado. O porquê disto? A conta não fecha. Os preços de longo prazo hoje, são muito baixos à ponto de viabilizarem os projetos. E além disso, boa parte dos geradores se encontram descontratados (o maior deles a Eletrobras) e ainda precisam vender uma boa parcela de sua energia no mercado livre, ocasionando em prejuízo para eles.
Um economista ou profissional do mercado financeiro deve se perguntar o porquê o preço não se ajusta a ponto de equilibrar a situação. Esta lógica faria sentido, se não fosse o modelo de precificação utilizado no país. O preço, é dado por um modelo matemático em uma lógica de custo (excluído questões financeiras) e não por oferta. Em linhas gerais, é definido o valor para gerar 1 mwh adicional, ou seja, o custo marginal. O problema, além de não considerar o custo financeiro, o custo marginal da água é zero, e em um cenário de alto volume de reservatórios, o PLD vale piso, o que não paga a operação do setor, nos trazendo à situação ingrata que temos hoje.
Curioso pensar que energia barata deveria ser bom, nos levando à um melhor custo de produção nas indústrias, impulsionando o desenvolvimento econômico. Mas... em primeiro lugar, barato é relativo. Em segundo, o preço do mercado livre é muito diferente do mercado cativo e em terceiro, nem todos os agentes se beneficiam. Até mesmo o governo, que deveria pensar em uma bandeira de energia barata, se prejudica neste cenário. Todo seu plano de investimento em energias renováveis vai por água abaixo. Me pergunto para quem a Petrobras venderá a energia de suas caríssimas e superfaturadas eólicas em alto mar. Não tem demanda e não tem preço para tal, mas neste caso, sobrará em algum encargo ou sobrará a conta para o mercado cativo (nossas casas).